sexta-feira

libelo das grades desalinhavadas

para Simone Souza

sou o menino atrás do portão de ferro
ainda estou lá
travado


é ele quem me crava os dentes
que encrava este doído dormente
escravo


o mundo passa na minha frente
em puro desdém por mim
mas tudo gravo


é com as puídas unhas dele
que escavo

e me realinhavo

sábado

evolado




o verso aberto
não quer preencher nada
ejacula-se incerto

amante fartado
como arame farpado

dói e se doa liberto

quarta-feira

fogos e vinho


minha mãe é meu verso
à sombra da goiabeira
o tempo em redemunho

meu pai arredonda o tanino
põe poesia no rumo
deste lugar de dor no universo

com eles, os janeiros que passam
são só rascunho
prólogos em desalinho

festejo mesmo os fevereiros
como sonham os junhos
desejosos de fogos e vinho

o que somam os janeiros
não me dezembram
continuo filho menino