sexta-feira

A solidão do poeta


de que profundo punhal é essa dor?

nasci entre montes
olhar de curtos horizontes
voo de quem não se reverbera

só o mistério das aves alimenta
o sonho de levar elevar aliviar
a dor mais secreta

a solidão do poeta


sábado

Lua total

(última eclipse da lua)
chegou lua nova 
jurou amor crescente 
lua cheia doou-se 
e para não minguar 
beijou-me eclipse


POÉTICA



Buscar a palavra é sentir-se perto
Do estranhamento de viver
Como resíduos de pedra no olho
... Gosto de sal habitando alma e ventre

Encontrar a palavra é ressurgir
Dos vales onde o sol não chega
É tornar-se novo e atemporal
Rodeado de ser aprendi



Juarez Gomes de Sá



domingo

Minas, 1988



ares assim me deixam velho
rugas erodidas na terra na cara
morros calvos, muito calvos, quase nus

imagens do campo que me cobram
- onde está você agora?
estou tão vestido, minha terra!
na mais pura nudez de quem nasce ou morre
de quem mais morre do que nasce


imagens do campo que me dão saudade
- onde está você agora?
estou tão sozinho
você também tão sozinha, minha terra!

e nem conseguimos mais medir
a distância que nos separa

ares assim me deixam mais velho

Sonho leve e bom

um som leve e bom
adoça o ar
um sonho leve e bom
de te encontrar

vai canção e traga ela pra mim
diga que o amor está aqui
sempre maior
ressoando melhor


a mais tenra voz
que entoei
som mais leve e bom
que já cantei
diz que vou dar-te o mais incrível
deste amor inesquecível

e terei eu um sonho leve também