sexta-feira

Amor fortificado

hoje pisoteada 
esmagada em ruína 
nossa história lacrimeja 
azedos fermentados pela rotina 

e mesmo assim no fim do dia 
teus olhos brilham 
teus lábios desamarguram 
açúcares sorrisos poesia 

você me suavisa 
acarvalha fortifica 


e força o tempo de espera 
enquanto o amor ainda avinha

terça-feira

Doce uva

prefiro você no calor do vinho
mordente em seu tanino
em sua suave seiva que abraça

escolho você sensual taça
plena em três quartos
suor em treze graus
em lábio sedento

brindo o vinho que me entrega você
tontinha na medida
divina e obscena
uva madura elegante esguia
a dançar magia ao vento
poesia de alma serena

amor
doce colheita tardia

quinta-feira

Doce taça


o frio chama elegância veste charme 
fragrância a encantar-me 

o frio aveluda o colo 

aconchego que aquece com graça 
chamego que adego em segredo 

meu vinho em sua taça

terça-feira

Doce sol

raiado sol em morosa névoa
contraluz na pétala carmim
doce ar perto da rosa

- veja ao redor, meu amor,
  como fica belo nosso jardim


segunda-feira

Adeus em Junho



vento afiado
calafrio testemunho de um adeus
frio
dolorido calado
choque gelado em redemunho

sozinho poesio seu nome
ao vinho queijo e queixume
definho em rascunho

- que a solidão de Junho se consume

sexta-feira

Fábula

em maldita e delicada trança
a este castelo acorrentou-me
e aqui coroou-me eremita
sem herdeiro sem herança

- por que desa(l)mar-me?
  sou seu príncipe

reino indigente
corpo que habita
lugar ausente