quinta-feira

três poemas para Cidade (Re)Velada

inspirados nas fotografias da exposição de Wanderson Alves






janela - de dentro e de fora
passarela chuvosa
a borboleta, a rosa

a saudade (re)velada
condensa a cidade

- cena de filme rodado na surdez da madrugada





a cidade cintila, chora e abandona
baila sombra – olhar que não mais sonha

a cena retém e transborda
o desdém
de quem já não se comporta


pedra pedra





a poesia do vazio reverbera
no quarto, na cidade
e a dor cumpre sua parte

o momento é exato
    (antes que o tempo tudo aborte
     até mesmo a morte)
a exclamar-te

saudade

é tua arte



    

sábado

Esquina em chamas

(Jerônimo Gonçalves com Francisco Junqueira)






antes do fogo
antes do aluvião
de tudo desaparecer na boca-de-lobo
imagina como era linda
a confluência das águas plácidas
do córrego com o ribeirão?

hoje tua brisa assa
tua terra tosta
e o concreto perpetua teus vapores infernais

- era verde de várzea a cratera do vulcão?

a andorinha esfumaça 
quando a tarde finda
e ardemos em longas noites nudas e sudorais

- serenava sombra nesta esquina?

não mais 
agora tudo calcina 
como palavra flácida 
num poema ácido  



Imagem/Google Maps: Esquina das Avenidas Jerônimo Gonçalves e Francisco Junqueira, onde ocorre o encontro das águas do Córrego Retiro Saudoso  e do Ribeirão Preto, hoje canalizados.

   




terça-feira

A tarde em seu rosto



Para Bell San

a luz do sol descansa  
e aspira um ponto sereno
- extrato de si mesma

esta luz quase cega apraz
dança e desinflama
quiçá banhada ao quase sangue do grená
ou na clareza dura da hóstia
um ponto meio treva nos cabelos
ou nos olhos meio chama 
sonha ser o halo da irisação que no seu sorriso se refaz 



   

domingo

Apenada missão




fazer-se de detritos
do sentido exato
alinhavar o desconexo
sem aparar as pontas
                       das palavras
decompor-se 
compacto

aos gritos 
expor-se glande à unha de gato