na vinha do verso
domingo
visita do eu
quando não se tranca no banheiro
traz ácaros e tártaros
gorduras e saburras
se joga no sofá com travesseiro
cega barbeadores
exaure desodorantes
chia suas fúrias e adia o dia inteiro
empilha a pia
bicha o lixo
cheira chorume e bueiro
esta visita do eu
é de hospedeiro
houvesse porta
batia na casa
sexta-feira
libelo das grades desalinhavadas
para Simone Souza
sou o menino atrás do portão de ferro
ainda estou lá
travado
é ele quem me crava os dentes
que encrava este doído dormente
escravo
o mundo passa na minha frente
em puro desdém por mim
mas tudo gravo
é com as puídas unhas dele
que escavo
e me realinhavo
sábado
evolado
o verso aberto
não quer preencher nada
ejacula-se incerto
amante fartado
como arame farpado
dói e se doa liberto
quarta-feira
fogos e vinho
minha mãe é meu verso
à sombra da goiabeira
o tempo em redemunho
meu pai arredonda o tanino
põe poesia no rumo
deste lugar de dor no universo
com eles, os janeiros que passam
são só rascunho
prólogos em desalinho
festejo mesmo os fevereiros
como sonham os junhos
desejosos de fogos e vinho
o que somam os janeiros
não me dezembram
continuo filho menino
sexta-feira
inferno que voa
Parece pôr do sol, |
só que não. |
imita o belo tombar do sol
mas é poeira inane
a mesma em que engelho
o nome escorre água
mas não vinha vida
nem ilumina primavera
é ribeirão preto
margeado de vermelho
chão de interno degredo sertanejo
no inverno do inverno
o vento abrasa a mais intensa aridez
todo o inferno em um único greto
terça-feira
te esperanço
de uma vida no inferno
estrela do mar clareias
num róseo lamento
persevero
no redemunho que olhos desareia
sombra de árvore na lua cheia
ao vento
me lanço
agora aqui estou neste inverno
fixo e trespassado no tempo
não te espero
te esperanço
domingo
orcrim
no suor frio e ferruginoso
- o sangue das sombras -
prova do veneno que destilou
tiranete com chifres
em decúbito ventral
apunhalado pelo golpe que tramou
o sumo cão
- tolo da noite -
anjo caído na própria traição
.
sexta-feira
segunda-feira
Sarau Ponto e Virgula
"Ter em Ribeirão Preto uma revista como a “Ponto & Vírgula” chegando à trigésima edição é um privilégio e um sinal de esperança. Privilégio porque é raro encontrar pessoas como a Irene Coimbra, que dedica sua vida às letras e assim nos alimenta a alma. Assim como também é raro beber de um sonho que sacode a realidade por tanto tempo. E é exatamente por isso que a “Ponto & Vírgula” é um sinal de esperança, uma prova de que – a despeito de toda corrente contrária – viver o sonho é a mais pura realidade."
Texto meu publicado na Revista "Ponto e Vírgula".
Texto meu publicado na Revista "Ponto e Vírgula".
Assinar:
Postagens (Atom)