terça-feira

Córrego Timotinho




Córrego Timotinho, Timóteo/MG



insistentemente chove
vou-me por canaletas bueiros manilhas
a me dar no ribeirão preto
sou estas águas mal cheirosas
como as do córrego do gregório
loucas por transbordar o lixo a que as submeto

agora intensamente
viro tempestade de horrores
com peso de destruir jardins
e carregá-los macerados ao córrego das flores

por toda parte entro pelas frestas pelas goteiras miúdas
entupo a pia alago o chão
como insurgente ribeirão arrudas
que não esconde
quando e onde
seguidamente
afoguei-me nas enchentes do lavapés
sonhando ser o subaé em sua nascente

quem imaginaria que a vinha assim fosse
contra a correnteza do caratinga
fugindo das margens do rio doce
subindo torrentemente o piracicaba?

vou dissolvido de volta pra casa
levando cada uma das águas que encontrei no caminho
que nunca deixaram de ser
as do córrego timotinho


sexta-feira

Hóspede






quero aprofundar o desconforto
de desdizer todas as certezas
com  os mesmos olhos
de frio estanho

de vida curtíssima
sou passageiro deste corpo
que tem o hábito estranho
de ser eterno morador do quarto de hóspedes

  
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