quinta-feira

Fornalha




a mata fumega
estala osso
o corpo curto-circuita
na pele o ar pesa grosso
secura de sangrar ventas

- respirar é esforço

  

segunda-feira

Exumação



então é isso
narra  sem amarras
vive menino
onde o coração é mais doce

como lenda
defenda chuva de estrelas ocasos
sonha  ao vinho
às garrafas
beija o asfalto em sangue
na cena de amor declarado de joelhos ralados

ele sorri
disseca
e cata os pedaços
- ossos hálitos dramáticos crina de cavalo lomba esperma -
e vai no horizonte
de único traço

este menino que sempre habita
condena e liberta
só ele precipita da ponte
e maldiz o perdão enquanto você peca


domingo

Sua super lua



amar noutro mundo
tão impossível quanto amar sem desamor
banhar-se no fétido Rio Doce
e deixar-se cobrir de luz sem margens
amar fora de si
no lado escuro da Lua

que hoje é só luz

  

sábado

Marinhagem



fales aos marujos surdos e sujos 
deste corpo 
imbarcável 
desta alma 
iniçável 
dos invisíveis marejados olhares
desta dor que só há em ti 

mas 
como quem escreve no que se espera de imprevisível 
da areia da praia
suspires profundamente e não respondas 

caias aos pés dos mares 
na brisa de gaia 
cascatas de arrepio 
e vás com as ondas