sexta-feira

Você foi

balanço de anca

que me chama
inflama

coração surdo grita
assusta arranha a garganta
a voz esganiça

engasgo seu nome
e no longe
você agiganta e some

domingo

Você veio


não vi você chegar
vinha de tão longe
nem pude enxergar

meu horizonte é curto
meu chão distante
aprisionado pela miopia

mas
você veio mais perto
beijou meus olhos e sorriu

chegou quadro impressionista
abrindo passagem em lances de vista
desenhando linhas que forçam o horizonte

você veio
minha mais nova paisagem

sábado

Abraço


arritmados corações

agora compassados
em confessos perdões
sem pudores e dores

(rainha dos sonhos
você veio dizer sim)

choramos docemente abraçados

seu regresso, terna surpresa
da madureza dos amores

Sol de Maio

com o tempo o amor assenta
acinzenta esquecido no frio vento

para reluzir aquecido
basta uma fagulha
desatenta de soslaio
do sol um único raio
das manhãs de maio

quinta-feira

Avinhar


para amores morosos, magia

paradionisíaca poesia

doses ancestrais

nada mais

quarta-feira

A corte




perfumes de histórias úmidas
suspensos na troca de olhares
arde a carne em mil calores
pelos e repuxos musculares



dança ao som de boleros
o charme que a noite enfeita
pernas, peitos, decotes abertos
finos  gestos de corte aceita



delicados atrevimentos
ais sorridos sem pudores
minúcias, prazeres intensos
na nobreza dos amores




domingo

sábado

Cozinhando para você



toalha, taças, talheres e flores

vigores em talos e folhas
alhos e óleos entre olhares
deliciando saladas feijões e arrozes

texturas de carnes ao ponto
de carícias de mãos acolheradas
molhos de seus sais mais vitais
açúcares em bocas apimentadas

paladares, sortidos frutos
sobremesa rica em sabores
doce fogo, vinhos e licores
- nossa mesa de amores

domingo

Beijo

mãos a cinturar-te
ao suave sim que soares


levemente tangidos
lábios quentes escarlates
língua dentes rangidos


teu corpo tão rente
erguendo calcanhares

quinta-feira

Insone


em meu tormento
a frouxa torneira
resmunga birrenta
a arrogância do tempo


nem o sono nem o amanhã
me socorrem neste instante
em que a vida pontua sua fuga
com o mar que desvai gotejante

domingo

Vértice


na serra da vida
é pesada a caminhada
o pódio o cume a fadiga

o que resta é descida
desandada padecida
ao seu pé enterrada

mas, se do céu a vida partisse
como anjo semente caísse
e o pódio na terra alcançasse

o resto seria suave subida
ascenção da lótus ferida
para no colo dos deuses curar-se

Poema cravado

simpatias e benzeduras
para deixar-te em mim
entranças e ternuras

jogos à cintura
encaixe ardente
de longa envergadura

amor e delicadas ranhuras
de um poema ao dente
declamado enquanto urras