sexta-feira

Timóteo - como cavar o aço?







forno lingote prensa
- que futuro nos avizinha?
enxofre cinza suspensa

o que leva a cabeça não pesa
- onde ela irá sozinha?
rolará decapitada vazia leve

semente cremada
- onde esqueci Elomar?
cidade minha, desterrada

domingo

Paizice

esprema a espinha
mas não fira a pele

diete fique fininha
mas não se esquelete

a vida é delicada, menina
e nada nela se repete


acerte o cabelo corrija a gola
descerre aquele sorriso agora

bjs
tchau

Sonoridade recorrente


Ela na companhia dos astros

Eu no caminho dos rastros

A gente se ecoa nesta viagem 

Levando leveza na bagagem

sexta-feira

oiro-fio

somos sonhos
vivemos de acenos silenciosos
morremos serenos misteriosos


sonhos tontos
tantos tortos muitos mortos
vagando entre plumas e pedras

quinta-feira

Frio vazio

a estátua cintila chora e me acompanha
baila pluma olhos de quem já não sonha

seu vazio me retém me suporta
com desdém
frio cio que não me comporta

pedra pedra

domingo

Leveza

cerra os olhos
medita
decide dizer não

mergulha o corpo na alma
bóia de braços abertos
levita a dura vida

esvazia o bolso e leva só o que cabe no coração

sábado

Preguiça hibernal

A dor grita com a gente
- acorda, moço, corre pra vida
O amor boceja e discorda
- ainda não, ainda não

Amor descompassado

disse senões meigos
com silêncios e surdezes
por botões em pequenas nudezes
sonhou a mudez da boca nos seios



a palavra - lírica borboleta
guardarei para cartas amantes
como hoje e como antes
endereçadas à escura gaveta

Desendereçado coração

leve passarinho
o coração desassombrado voltou a amar baixinho
piou acanhados cochichos
bicou entreabertos sorrisos
desdisse tesouros
vestiu jóias de lata
negou ancoradouros
virou papagaio pirata

esgarçou asas
o coração desendereçado

quarta-feira

Estilhaços

saio de seus versos
recolhendo meus restos

caio no mais longo dos dias
céu turvo ar vácuo mão de adeus

mas há conforto no lírico porto
replanto e rego a lágrimas
cada caco morto que cato
e volto a amar baixinho
comentando o poema “Das cicatrizes seculares”, de Líria Porto, publicado no sítio Tertúlia Pão de Queijo.

domingo

O poder da palavra


versos farsantes dissimulam
forçam: vozeiam e estrangulam
torturam, mas não violam a poesia

mesmo na boca do poder
não há palavra insensível

sábado

Suores

na varanda, a rede e seus arredores
entardeceres de longa viagem
lábios serenos de sais e suores
amores de suave aterrissagem

sexta-feira

Triste nudez

Numa imagem realística, disforme, oval, enrugada
Hoje a Terra foi despida de beleza sem pudor
Em favor do conhecimento científico
Quando a Lua foi violada
Decretou-se fim do platônico amor
Do eterno desejo proibido
Terrores para qualquer alma apaixonada
Mesmo feia, a bela Terra é meu berço e destino acolhedor
Não deixarei de amá-la, mas vou dormir entristecido